Você acorda, organiza a agenda, responde mensagens, entrega tudo no prazo.
Lembra de beber água, tentar respirar fundo, passar um café forte e seguir.
No currículo da vida, tá tudo certo.
Você é autônoma, sensata, consciente. Talvez até seja militante ou ativista de alguma causa muito importante.
Estuda neurociência, sabe o que é disfunção executiva, já leu mil textos sobre autocuidado.
Sabe nomear as emoções com precisão cirúrgica.
Mas, na prática, sente… quase nada.
Ou sente tudo, mas só quando já não dá mais pra segurar.
…
Você não se reconhece como uma pessoa fraca (e não é).
Só aprendeu cedo que ser funcional era sua única chance de ser aceita.
E agora tá presa numa versão altamente performática de si.
Ser neurodivergente de esquerda, crítica, informada e cansada é viver num modo silencioso de colapso.
Porque você acha que “não deveria estar assim”. Que já sabe demais.
Que “tem acesso”, então deveria dar conta.
Mas e se o problema não for falta de conhecimento?
E se for excesso de auto-observação e nenhuma permissão pra desabar?

Psicoterapia não é um upgrade de produtividade.
É o lugar onde você não precisa provar que merece ser cuidada.
É onde a máscara social pode cair sem precisar explicar por quê.
Onde você pode existir inteira, inclusive nas partes que ainda não teve coragem de olhar com calma.
Não é leve. Mas é honesto.
E, com o tempo, profundamente libertador.
Silvana Machado Valença
Psicóloga (CRP 03/30909)
Gestalt-terapeuta para quem sente demais — ou já nem sente mais.