Tem algo de profundamente angustiante em atualizar o Lattes. Burocratizar a própria trajetória, repassar cada item, preencher cada campo… Como se fosse possível traduzir a complexidade de uma vida em uma planilha padronizada.
Mas por que isso mexe tanto com a gente?
Talvez seja o ato de remexer no passado. Revirar memórias que já estavam encaixadas em caixinhas silenciosas. Ou talvez seja o contrário: lembrar de tudo o que já foi feito, de quem a gente é por essência, e entrar em contato com uma parte nossa que andava esquecida.
Atualizar o Lattes não é só uma tarefa técnica. É um ritual que nos força a encarar nossas escolhas, nossas pausas, nossos ciclos. É um espelho retrovisor e uma projeção ao mesmo tempo.
E aí, no meio disso tudo, surge o paradoxo:
“Depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro”, dizem.
Atualizar o Lattes, então, parece ser a epítome da retroalimentação entre os dois. Um ciclo de reaprendizado que oscila entre orgulho e cobrança. Entre reencontro e desconforto.
Mas talvez — só talvez — isso também seja uma oportunidade. De olhar pra trás com gentileza, de se reconhecer na própria caminhada, de se lembrar que você não começou agora. E de projetar o que vem com mais consciência do que se é.
Não é só preencher campos. É se reescrever com mais verdade.

Nem tudo que foi precisa caber numa categoria. Nem toda experiência se traduz em palavras-chave. Às vezes, o mais importante não é o que se escreve no currículo, mas o que ele não consegue dizer: os bastidores, os afetos, os tropeços, as reinvenções silenciosas.
Então, sim, atualizar o Lattes pode ser um gatilho. Mas também pode ser um lembrete: você seguiu. Você está aqui. E mesmo nas pausas, nos desvios, nas páginas em branco, você continuou escrevendo sua história.
Talvez o Lattes nunca consiga capturar isso. Mas você sabe.