A Comunicação Suplementar e Alternativa e as Fases Pré-Simbólicas no TEA

Nutrição: Relação de Afeto e Confiança

O desenvolvimento da comunicação em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e múltiplas deficiências sensoriais começa com o estabelecimento de uma relação de afeto e confiança. Van Dijk (1968) aponta que a construção desse vínculo exige uma rotina diária com estímulos consistentes para que a criança se sinta segura. Em crianças com múltiplas deficiências, pode haver dificuldades na distinção entre si e o ambiente ao redor, o que reforça a necessidade de um trabalho conjunto com o cuidador/professor.

Winnicott (1996) também enfatiza essa relação primária entre cuidador e bebê, destacando que elementos como o cheiro, a respiração e o batimento cardíaco materno formam a base da comunicação inicial. O conceito de holding, descrito por ele, remete ao apoio físico e emocional necessário para que a criança se sinta protegida e desenvolva sua identidade.

O Papel do Professor na Formação do Vínculo

Na escola, o primeiro contato entre professor e aluno com deficiência deve ser pautado na observação e respeito ao tempo da criança. É essencial que um profissional seja responsável por essa mediação, favorecendo a criação de um vínculo estável. Além disso, o professor deve estar atento à forma como a criança percebe e interage com o mundo, evitando avaliações constantes e priorizando uma relação afetiva.

Fenômeno da Ressonância e Comunicação Inicial

A ressonância ocorre quando o professor se move junto com o estudante, permitindo que ele se familiarize com as atividades. Crianças com múltiplas deficiências sensoriais, incluindo surdocegueira, se beneficiam desse método. A iniciativa do movimento deve sempre partir da criança, com o professor apenas facilitando o processo, posicionando suas mãos para auxiliar no reconhecimento dos objetos e na realização das atividades.

Para ilustrar essa abordagem, o filme O Milagre de Anne Sullivan (1962) retrata o trabalho da educadora Anne Sullivan com Helen Keller, uma criança surdocega que enfrentava desafios na comunicação. Sullivan utilizou métodos de mediação, como o alfabeto datilológico, para possibilitar a comunicação de Helen e demonstrar seu potencial à família.

Movimento Coativo e Ampliação da Comunicação

O movimento coativo, também conhecido como mão sobre mão, é uma estratégia em que o professor realiza ações lado a lado com a criança, incentivando a autonomia. À medida que a criança se sente mais segura, a proximidade física pode ser reduzida, promovendo independência.

Nesta fase, são trabalhadas transições do concreto para o abstrato, como contornos de objetos e atividades tridimensionais. A antecipação das atividades é essencial para ajudar a criança a compreender sequências e estabelecer uma rotina. Além disso, jogos cooperativos e brincadeiras inclusivas fortalecem a socialização e a interação com outras crianças.

Segundo Maia e Nascimento (2003), o trabalho inspirado em Van Dijk aprimora significativamente a comunicação expressiva e receptiva de crianças com múltiplas deficiências sensoriais. A criação de um ambiente preparado para a inclusão, com o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para crianças surdas, por exemplo, é fundamental para ampliar as possibilidades comunicativas dentro da escola.

Conclusão

A comunicação suplementar e alternativa nas fases pré-simbólicas exige um trabalho sensível e estruturado, pautado no vínculo afetivo, na ressonância e na mediação por meio do movimento. O professor desempenha um papel essencial nesse processo, auxiliando a criança a perceber o mundo, se expressar e interagir com os colegas. O desenvolvimento da comunicação não se dá apenas por meio das palavras, mas também pelo corpo, pelas emoções e pelas relações construídas no ambiente escolar e familiar.

Referências

  • DIJK, J. Van. Writer, 1993.
  • MAIA, S.; NASCIMENTO, F. A. A. A. C. Saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização – surdocegueira/múltipla deficiência sensorial. Brasília: MEC; SEESP, 2003.
  • WINNICOTT, D. W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
  • O Milagre de Anne Sullivan. Direção: Arthur Penn. EUA: MM Disney Enterprises, 1962.

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