A apneia do sono é uma condição muitas vezes negligenciada, mas que pode ter impactos profundos na saúde física, cognitiva e emocional, especialmente a partir da meia-idade. Trata-se de uma alteração respiratória que ocorre durante o sono, caracterizada por interrupções repetidas na respiração que podem durar de alguns segundos a mais de um minuto. Essas interrupções impedem que o corpo atinja as fases mais profundas e restauradoras do sono.
Em termos simples: quem tem apneia dorme, mas o cérebro não descansa.
Tipos de Apneia do Sono
1. Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): a forma mais comum. Ocorre quando os músculos da garganta relaxam excessivamente durante o sono e bloqueiam parcialmente ou totalmente o fluxo de ar.
2. Apneia Central do Sono: mais rara. O cérebro falha em enviar os sinais corretos aos músculos responsáveis pela respiração.
3. Apneia Mista: combinação das duas anteriores.
Sinais e Sintomas
Muitos dos sintomas mais evidentes são percebidos por quem dorme ao lado da pessoa com apneia:
- Roncos intensos e persistentes
- Pausas na respiração durante o sono (observadas por terceiros)
- Engasgos ou sufocamentos noturnos
- Sono agitado, com movimentos frequentes
- Acordar com sensação de cansaço, mesmo após “dormir a noite toda”
- Sonolência excessiva durante o dia
- Dores de cabeça matinais
- Boca seca ou dor de garganta ao acordar
- Irritabilidade, mudanças de humor e esquecimentos frequentes
Em idosos, os sintomas podem aparecer disfarçados como:
- Lapsos de memória
- Quedas de pressão ou tontura
- Falta de foco
- Depressão leve ou apatia
- Oscilações glicêmicas inexplicáveis
Riscos Associados à Apneia Não Tratada
- Danos cognitivos: aumento do risco de demência vascular e Alzheimer
- Doenças cardiovasculares: hipertensão resistente, arritmias, infarto, AVC
- Problemas metabólicos: piora do diabetes, resistência à insulina
- Imunidade comprometida: inflamação crônica e maior vulnerabilidade a infecções
- Acidentes: maior risco de quedas, batidas de carro, esquecimentos perigosos
Quem tem mais risco de desenvolver apneia do sono?
- Pessoas acima de 60 anos
- Ex-tabagistas
- Hipertensos ou com histórico de doenças cardíacas
- Diabéticos ou resistentes à insulina
- Pacientes com hipotireoidismo (como Hashimoto)
- Pessoas com sobrepeso ou com estrutura anatômica que favorece o colapso das vias aéreas (ex: queixo pequeno, amígdalas grandes, língua volumosa)
Diagnóstico
O melhor exame para diagnosticar apneia é a polissonografia. É um exame que monitora as funções do corpo durante o sono, incluindo respiração, oxigenação, atividade cerebral, movimento dos olhos e das pernas.
Pode ser feito em laboratório do sono ou, em muitos casos, com um aparelho portátil em casa.
O exame classifica a gravidade da apneia em leve, moderada ou grave, com base no número de eventos respiratórios por hora (Índice de Apneia-Hipopneia — IAH).
Tratamento e Controle
O tratamento depende da gravidade, mas as principais estratégias incluem:
1. CPAP (Continuous Positive Airway Pressure)
- Um pequeno aparelho que envia ar comprimido por uma máscara, mantendo as vias aéreas abertas.
- É o tratamento mais eficaz para apneia moderada e grave.
- Melhora significativamente a qualidade do sono, memória, humor, pressão arterial e níveis de glicose.
2. Mudanças no estilo de vida
- Perda de peso (mesmo 2–3 kg podem ajudar)
- Dormir de lado em vez de barriga para cima
- Evitar álcool, sedativos e refeições pesadas à noite
- Praticar exercícios físicos regulares
3. Tratamentos complementares
- Aparelhos intra orais (em casos leves)
- Cirurgias corretivas (em situações anatômicas específicas)
O sono é o neurologista do corpo
Tratar a apneia do sono não é apenas sobre dormir melhor, é sobre viver melhor. Para pessoas idosas, manter o cérebro ativo, a memória afiada e o corpo funcional depende diretamente da qualidade do sono.
- O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem:
- Reverter sintomas confundidos com demência precoce
- Reduzir risco de AVC e infarto
- Proteger o coração e o pâncreas
- Aumentar a disposição e a autoestima
Quando investigar?
Procure avaliação especializada se houver:
- Lapsos de memória frequentes
- Ronco persistente com pausas respiratórias
- Sonolência diurna que atrapalha a rotina
- Hipertensão de difícil controle
- Diabetes sem causa aparente de descompensação
- Humor deprimido ou sensação de “cérebro enevoado”