Você já ouviu alguém dizer: “Acho que fulano tem autismo”? Em tempos de maior conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), também cresce o número de dúvidas e equívocos sobre o que é — e o que não é — autismo.
O diagnóstico do TEA não é simples. Ele exige um olhar atento, escuta sensível e conhecimento técnico. Isso porque muitos dos sinais observados no autismo também aparecem em outros transtornos do neurodesenvolvimento. E aí entra o chamado diagnóstico diferencial.
O que é diagnóstico diferencial?
É o processo clínico que busca distinguir um transtorno de outros que apresentam sinais parecidos. No caso do TEA, esse processo é essencial para evitar diagnósticos incorretos e garantir que a criança (ou adulto) receba o cuidado mais adequado.
O que caracteriza o TEA?
De acordo com o DSM-5, duas características principais definem o Transtorno do Espectro Autista:
- Déficits persistentes na comunicação social e na interação social, em diferentes contextos;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.
Esses sinais aparecem desde o início do desenvolvimento e afetam significativamente a vida da pessoa.
Mas… e quando os sinais se parecem com autismo, mas não são?
Transtornos que podem parecer TEA (mas não são)
Vamos conhecer algumas condições que podem ser confundidas com o autismo:
Transtorno do Desenvolvimento Intelectual: há um prejuízo global nas funções intelectuais, sem discrepância entre habilidades sociais e cognitivas. O foco aqui não está nos comportamentos repetitivos típicos do TEA.
Síndrome de Rett: ocorre regressão no desenvolvimento, especialmente entre 6 meses e 2 anos, com perda de habilidades motoras. A interação social costuma melhorar após os 4 anos — algo diferente do autismo.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): desatenção e impulsividade podem dificultar interações sociais, mas não há os padrões repetitivos característicos do TEA.
Transtornos da Linguagem / Comunicação Social (Pragmática): comprometem a comunicação verbal e não verbal, mas sem prejuízo na reciprocidade social nem comportamentos repetitivos.
Transtorno do Movimento Estereotipado: a pessoa apresenta movimentos repetitivos (como balançar o corpo), mas com preservação das interações sociais.
Mutismo Seletivo: a criança fala normalmente em ambientes familiares, mas permanece calada em contextos específicos. Sua interação social pode estar intacta.
Esquizofrenia Infantil: pode surgir com sintomas como delírios e alucinações — que não fazem parte do quadro do autismo.
Por que esse cuidado é importante?
Um diagnóstico equivocado pode atrasar intervenções fundamentais, provocar estigmas e gerar sofrimento para a família. O diagnóstico diferencial permite um caminho mais assertivo de cuidado, respeitando as singularidades de cada pessoa.
E agora?
Se você desconfia que uma criança apresenta sinais semelhantes ao autismo, procure uma avaliação especializada. Psicólogos, neurologistas e psiquiatras infantis com experiência no desenvolvimento infantil são os profissionais indicados.
E os adultos?
O diagnóstico do TEA em adultos também é possível e, muitas vezes, traz alívio e compreensão para histórias marcadas por exclusões, incompreensões e autossilenciamentos. No entanto, nem sempre é fácil encontrar profissionais com experiência em autismo na vida adulta. Por isso, é importante buscar especialistas que tenham uma escuta qualificada, sensível e livre de estereótipos, capazes de considerar as nuances do desenvolvimento humano ao longo da vida.
Lembre-se: o diagnóstico não é um rótulo. É uma ferramenta de cuidado.
Referência:
Anjos Filho, N. C. dos & Neufeld, C. B. (2023). Diagnóstico Diferencial do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Artmed. 2025.
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